E da série "produção em massa"...

Tá, hoje foi um bom dia, embora eu tenha madrugado ao acordar às 8 horas. O que é quase um disparate, levando em consideração que, comumente, levanto às 13. Não, eu não durmo tanto quanto se possa imaginar, embora eu não me importasse em durmir o dia todo caso o corpo não latejasse. De repente é só uma questão de costume, sei lá.

Mesmo assim, sonolenta, hoje foi um bom dia porque eu fui dar uma paletra sobre Psicanálise e Esporte. E foi ótimo. Quer dizer, não fosse pelo desejo, teria havido mesmo um disparate porque eu repeti a mesma pelestra três vezes: pra turma da manhã, pra turma da tarde, pra turma da noite. É a famosa produção em série do Ensino Superior. Então, na última palestra (ou repetição), vem o coordenador falando:

- olha, no mínimo eu garanto seu certificado, não sei se te serve pra alguma coisa.
- três, respondi eu: um pra turma da manhã, um com nome diferente pra turma da tarde e outro pra turma da noite.

Quer dizer, eu também acho que não serve pra lá grande coisa, mas se o CNPq anda contabilizando os professores eu é que não vou estar de fora. Nesta corrida maluca lá se vai pouco mais de uma centena de certificados, fora aqueles que eu deveria ter e não peguei. É que depois do décimo, ou do vigésimo, ou sei lá em qual número, a gente releva uma ou outra participação em congresso, até mesmo uma palestra meio nada a ver que a gente dá meio por acaso e por conta dos amigos.

Mas nada disso! Hoje eu quero mesmo é ser contabilizada. Quero colecionar certificados! E eu já sei o que fazer com eles quando eu for dona do meu nariz. Eu vou pegá-los, um por um, e vou grudá-los de modo a fazer um grande mosaico na parede do meu escritório (naquele escritório que um dia eu vou ter naquela casa que um dia eu vou construir quando eu começar a ganhar mais do que 25 reais a hora-aula). Tipo découpage (é que recorta e cola agora tem nome francês). Sim! Vou passar cola, um por um, e vou grudá-los aleatoriamente na parede. Uma galeria, de libertação talvez. Uma instalação artística ou um protesto silencioso, talvez.

Depois eu vou passar um verniz por cima para envelhecer o papel (amarelá-los) e para contrapor ao tom do verde que vai estar na parede. Vai ser legal porque vai dar jogo com os móveis (madeira nobre, ecologicamente extraída da natureza) e com as estantes onde estarão alojados meus livros. E também vai combinar com o painel em macramé (trabalho feito com nós, fios, barbante e cordas) que eu estou imaginando fazer para cobrir a janela e tapar um pouco a luminosidade do sol. Até com a tapeçaria vai combinar, e com a poltrona de leitura, esta feita de couro envelhecido, tingido de vermelho.

Então eu deixarei de ser mais um número, de ser contabilizada.