Negociata

Eu estou me sentindo um peixe fora d´água no doutorado, e por diversos motivos. De repente eu me olho e não me vejo, o que me causa certa angústia. Quer dizer, meu orientador, por exemplo, nunca leu minha dissertação de mestrado, e eu nem posso ficar puta, de jeito nenhum, porque eu nunca li nada do meu orientador. Empatamos, mas saímos perdendo.



Eu me olho, e cada vez que me vejo, quando me encontro, tenho a certeza de que estou pagando o preço do amor. Um preço alto até, para um amor que virou ódio, ou algo que o valha quando as fichas começam a cair e você se sente diminuído em seus próprios sentimentos, ou ainda quando você se surpreende com você mesmo e descobre existir dentro da sua alma um doce exercício de vingança. Algo que te faz bem, que te faz rir e que te devolve ao prumo do mundo de seu próprio corpo.

E por causa disso, eu e meu orientador empatamos, mas saímos perdendo. Quer dizer, como é que eu poderia me sentir sendo o assunto principal de um diálogo como este aqui de baixo?

- Por que você está tão interessado que ela entre no doutorado? Já comeu?
- Já, e sou apaixonado por ela.

Não sei até que ponto eu retrato a realidade desta conversa, pois eu não estava lá. E é ruim para uma mulher saber que sua vida foi negociada neste nível. Então eu me questiono, todos os dias, o que é que eu estou fazendo com a minha vida?