O Sujeito Pós-Moderno da Educação

Evoco todos os santos para dizer aqui, sem blasfêmia, que tenho prazer em manter este blog e este debate tão gostoso com minha amiga Solange. As palavras que ela escreve me questionam, mexem com o que eu sou e eu passo dias refletindo o que seria este sistema educacional no qual estamos imersos.

Freud, à frente de seu tempo, disse, anos atrás, que educar é uma das três profissões impossíveis. As outras duas são governar e analisar (ou "psicanalisar", para que me entendam). Talvez seja por conta deste impossível que até hoje eu não consegui entender a palavra educar de outra forma além desta, voltada ao adestramento. Adestramento mercadológico, ou, para ser sutil, profissionalizante. Adestramento pós-moderno.

Eu sou professora universitária e acho que tenho uma parcela de culpa nisso quando me prostitui, quando me facilitei, quando permiti que alunos fossem apenas platéia, caso assim eles quisessem. E todos os professores, em prol de facilitarem suas próprias vidas, prostituem-se um dia ou outro, ou todos os dias como fazem a maioria deles. Quando minha mãe foi dar aulas na pós-graduação, eu lhe disse:

- olha, se de repente você se der conta que os alunos estão apenas te olhando como se não estivessem lá, não se preocupe, não é você, eles são assim mesmo, uns caras de pastéis.

É que para ser operador de telemarketing você precisa de curso superior. Então eu olho para meus alunos e os perdôo, na medida em que me vendo, mesmo sem querer. E nós dois, vendidos, abatidos, fodidos, quando nos encaramos no espelho não nos encontramos. Vamos nos apagando enquanto sujeitos (nem o professor pode dar a aula que deseja, nem o aluno pode aprender como deseja) para nos tornarmos objetos baratos, porque o valor da hora-aula não compensa tal qual o salário do operador de telemarketing. Daí que a gente vê que tanto o aluno quanto o professor pós-moderno são do tipo recorta e cola, e no fim ainda dizem amém!

Enquanto o aluno entrega trabalho copiado (porque é assim desde que ele vai pra escola), o professor, ao montar suas preciosas transparências no data-show, pega um livro, ou um texto, incusive os digitais, acha um conceito, recorta o conceito, copia o conceito, cola o nome do autor e reproduz ao seu aluno. Este professor ainda acha que tem direito de ficar bravo quando aluno vai até a internet, digita o conceito em sítios de busca, acha o conceito, imprime o conceito e entrega ao professor em troca de nota.

O cara diz que é plágio e o aluno aceita porque todo mundo sabe que existe uma lei que não permite que outras pessoas se utilizem de frases publicadas por alguém, sem que se cite a fonte. Infelizmente o aluno contempla passivo, sabe que o professor é a autoridade máxima e que pode ferrá-lo. E o professor não é professor, pois se o fosse, ensinaria seu aluno a colocar, antes do plágio, expressões do tipo: "segundo fulano de tal", "para beltrano", de acordo com ciclano", porque, afinal, é esta a linguagem acadêmica, e ninguém rechaça.

Este é o jogo num sistema pós-moderno em que ninguém pode ser o que deseja ser. E neste sistema do impossível, só posso concluir que alunos e professores não existem; eles já nasceram mortos.