A Educação Vai-Vai

A Educação Vai-Vai de mal a pior. Mainha, tome um patuá porque a coisa tá preta. E branca também, lá na avenida do Anhembi. E as manchetes dos jornais anunciam: Vai-Vai leva o tema educação para o sambódromo, e vence o desfile. Vai-vai explorar falta de leitura alheia lá na China, por favor. Ou que os comentaristas, jurados, críticos e jornalistas usem palavras mais adequadas, porque, convenhamos, o enredo da Vai-Vai foi o projeto de Sílvio Bacarelli, que tem um projeto de educação musical na favela de Heliópolis. Projeto bem bacana por sinal. Daí sim, eu concordo, Vai-Vai fez um desfile impecável, com suas alegorias musicais. Agora dizer que a escola explorou o tema Educação na avenida, pra mim já é demais. Eu estava lá e não vi alegorias com livros. Por certo que o incentivo à leitura não faz parte da educação. Apenas uma ala de universitários com seus canudos nas mãos. Uma alusão à sociedade de diplomas. E nós, professores que trabalhamos nas instituições particulares espalhadas país afora bem sabemos que o cara consegue ficar quatro anos dentro de uma sala de aula sem ler um livro. Vai-vai ver foi por isso que ele não foi pra avenida. No lugar deles, partituras. Tá bom, é legal esse negócio de usar a música para educar. Só não me venham fazer engolir que o enredo da escola foi um “acorda educação”, porque não foi. Não levantou os problemas reais do setor. Apenas fez aquele comum aos governantes despreocupados. Não se preocupou em jogar na cara do povo a aprovação automática e o analfabetismo funcional dela decorrente. Não falou da má formação dos professores de Ensino Fundamental, principalmente nas áreas rurais. Não falou dos baixos salários dos professores e que sobram vagas no Ensino Superior para quem quiser fazer licenciatura, e que há campanhas para isso, já que os jovens universitários fazem de um tudo, menos licenciatura. Não falou da falta das bibliotecas, dos laboratórios de ciência e de informática em grande parte das escolas da rede pública, nem que um a cada cinco jovens do ensino fundamental abandona o curso. Nem disse qualquer coisa sobre os míseros 25% dos jovens em idade universitária que freqüentam um curso superior, ou melhor, qualquer curso superior. E os outros 75%? Sabe-se Deus. Isso e uma lista infindável de abordagens mais significativas de uma educação que vai-vai mesmo de mal a pior. E vai-vai assim porque todo mundo achou que o que foi pra avenida já foi suficiente em termos de crítica à educação. E o apelo funcionou, pelo menos para a escola de samba, porque as outras escolas vão-vão continuar de mal a pior.