porque nós só queremos cuidar da gente mesmo...

Na crise das orientações acadêmicas, as lamentações me chegam por todos os poros. É ex-aluno que invade meu msn num apelo “professora, a senhora faz falta naquela universidade, posso ter fazer uma perguntinha?”. Como eu dava aulas de Metodologia de Pesquisa não era difícil imaginar o que estava por vir: como fazer busca, onde encontrar material, como fazer citação, como isso, como aquilo ou, então: “professora, o meu orientador não consegue entender que meu tema não tem referências bilbiográficas...”. Bom, isso eu também não entendo. Em última instância sempre se pode recorrer aos socráticos, aos pós-socráticos e aos pré-socráticos. E que vontade de gritar: contextualize-se fulano, contextualize-se! Ah, sim, foi essa turma que reclamou, um dia, que minha prova estava difícil: “professora, o que a senhora quer dizer com contextualize?”. Hein? Tá.

Mas como eu ia dizendo, as lamentações me chegam por todos os poros. Minha amiga que está no doutorado está indignada. É que o orientador dela não quer aceitar um co-orientador. Eita vaidade socrática, pré-socrática e pós-socrática. Então ela desabafa: “o que ele entende deste assunto? Acha que entende, mas não entende. Nós precisamos de ajuda, pow!”. Nós eu não sei, ela com certeza. E muita. Bom é que se legalmente não se pode contar com um co-orientador, pode-se perfeitamente pagar um supervisor (vou juntar ao cargo de palestrante: supervisora). Sem contar pro orientador? Ó deus, haverá alguma ética acadêmica neste jogo de esconde-esconde?

E por aí caminha a vida acadêmica. Hoje o ex-amante ligou (foda-se se a mulher dele ler este post, e tomara que sim). Perguntou da minha vida e coisa e tal. E a minha vida acadêmica está ótima. O bom de estar no doutorado é que você já sacou o esquema e deixa os orientados de mestrado lamberem o seu orientador. Eles mostram serviço enquanto os doutorandos cuidam de suas próprias vidas. Isso é bom porque dá para desestressar um pouco da política gugu-dadá da pós.

Mas na lista de lamentações, outra amiga disse que emburrou com a orientadora e desistiu do mestrado. Ainda tem aquela amiga que diz que não quer pagar preço tão alto no doutorado. E por aí vai. Mas os homens? Eles são orientandos tão mais práticos, como o ex-amante professor doutor que veio numa frase dolorida: "pega o que você já tem do seu livro e termina o doutorado, daí você entra num concurso público, e vai dar aula!". E neste pega=pega socrático, pré-socrático, pós-socrático eu esqueci de avisá-lo que já deixei de ser professora para ser palestrante... que não me atrai a idéia de ter 60 anos (a idade dele) contando os dias de licença prêmio ou os dias para a aposentadoria, nem viver um casamento acomodado. É, eu não contei nada disso. E que tristeza saber que ele não entendeu nada. Que eu aceitei fazer este doutorado maluco, pagando o preço do amor (do amor passado), numa tentativa louca de virar a mesa. A palestrante... A escritora... A supervisora... A editora ... Aquela coisa meio socrática, pré-socrática e pós-socrática de felicidade...