Fale com a minha mão!



Este post é para meus amigos que querem notícias de lá da ilha. É para os velhinhos do café, meus amigos de coração. É para meus alunos que viveram comigo a expectativa; meu chefe. Para aqueles que eu amo e que também me amam - meus grandes amigos - e, principalmente para quem acompanha este blog.

Começo dizendo que a universidade, endogâmica, é mesmo cruel. Pensei nestes dias, com estes meus botões digitais (porque tudo é, de fato, digital), que a crueldade das bancas acadêmicas existe apenas quando a gente não conhece ninguém e decide enfrentar a situação com a cara e com a coragem (mais com a coragem do que com a cara). Eu fui para a ilha com a coragem, deveria ter levado a cara de pau também, mas sei lá por onde ela anda.

Segunda-feira foi dia de prova classificatória que, até então, considerei que manteria todos os candidatos no mesmo nível. Minutos antes de entrar na sala percebi que a coisa não ia ser tão simples assim. É que o cara da banca cumprimentou todos os candidatos (velhos amigos) e a mim restou apenas um levantar leve de sobrancelhas como quem diz: você não desistiu ainda? Ignorei, tomei acento e esperei entregarem as provas. Fui fazendo, escrevendo, pensando nas próximas linhas. Passadas duas horas e meia de prova, os primeiros candidatos começaram a entregá-la. O cara da banca, muito simpático e solícito, disse para o primeiro que o estaria esparando mais tarde lá na sua sala. Para o segundo fez uma piada, riu, gracejou. Para o terceiro pediu que ligasse para que acertarem alguns detalhes (até deu o número do telefone!). E por ai foi até que me levantei e entreguei minha prova. O homem estava sentado, lendo algumas coisas de quem lhe interessava (os outros candidatos) e me ignorou. Desta vez nem levantou as sobrancelhas. Nada. A postura escrachada que ele assumiu na cadeira o deixava com a barriga saliente (daqueles que se acham poderosos por serem os donos do pedaço), pernas afastadas faltava ele coçar o saco (sinal de poder) e me mostrar o dedo. Eu imaginei a cena e ri por dentro querendo mesmo rir por fora.

Então na terça-feira eu voltei para a tal da entrevista. A menina que estava antes de mim ficou 10 minutos a mais e na saida deixou escapar: "então tá professor, eu fico te esperando para a gente ver o projeto e as coisas que faltam". Disse como quem sabe que já está tudo certo, parte da endogamia. O professor, aquele que você espera ser seu orientador confirma, diz alguma coisa com jeito de quem sabe mesmo que já está tudo certo. Mas comigo o cara foi simpático, caloroso. Fez umas perguntas, estabeleceu um contato quando chegou o outro, o mesmo do dia anterior. Desafiando. Tá, faz sentido, é entrevista para o doutorado, não é a casa da Mãe Joana. E fez umas perguntas que eu não entendi por pura questão de significantes mesmo, já que os meus são diferentes dos dele. Lá pelas tantas ele se vira e diz: "tente nos convencer de que você deveria fazer doutorado aqui com a gente". Eu estava tentando quando chega uma moça, invade a entrevista e diz a este cara que tem um telefonema pra ele. Eu já achei estranho alguém invadir uma entrevista de doutorado. Coisa de respeito. Mas acho que o cara achou normal, levantou-se e disse: "pode continuar falando, tente convencê-lo". E saiu, assim, como se eu não fizesse diferença alguma, como se eu estivesse falando para as paredes. Voltou 5-10 minutos depois com uma cara que lhe é peculiar e sentenciou: "já conseguiu convencê-lo?" Olhei para a calça jeans dele e pensei que esta deveria ser sua melhor roupa. Respondi as outras perguntas apenas por responder porque eu já tinha entendido o "dane-se você, eu não te conheço". Na saida ainda tive tempo de escutar "a gente se vê por ai, vai com Deus", que saiu pelo tropeço do inconsciente (é, Freud explica isso mesmo). E eu voltei pra casa pensando que quando eu for dona do poder, quando eu der a volta por cima sei lá por qual vez, quando tudo isso eu vou me lembrar de não ser assim tão tosca.