Propostas Inconscientes

Há um inconsciente coletivo? Será? Deve haver um.

Hoje um amigo me ligou, questionando o tema, querendo saber se isso é algum tipo de doença mental que acontece nas universidades. Mas o assunto é relativo, porque cada caso é um caso. Cada instituição é particular e cada professor se encontra em contextos diferentes, de ideologia e de salário.

Meu amigo está puto porque lhe convidaram a fazer uma palestra. Não ficou assim por conta do convite, claro, mas pelas condições impostas. Ou melhor, pela condição “sem pró-labore” imposta. “Sem pró-labore a puta que lhe pariu”, ouvi em tom de um desabafo contínuo:

“Então, quer dizer que eles me oferecem os ouvintes? Tenho-os às tampas, é só eu sair por aí, agora uma universidade daquelas, com todo aquele dinheiro, convidar palestrantes a título de gratuidade me é ofensivo”.

“Concordo”.

“Quem eles pensam que são, quem lhes dão o direito de me exigir, exigir não, de me solicitar uma viagem de 400 quilômetros em prol de divulgar um conhecimento que me custou e que me custa um tanto? Mercenários! Capitalistas! Sanguessugas!”

“Concordo, concordo, concordo”.

“Foda-se esta droga de inconsciente coletivo que se instaurou nas universidades, de que professor deve ser proletário. Eu sou profissional. Você não acredita, outro dia recebi outro convite indecoroso, de um clube de futebol, destes de ponta e tradição. Me ofereciam os atletas e com isso acharam que eu não cobraria nada.”

“Já sei: mercenários, capitalistas, sanguessugas!”

É, eu concordo com o desespero do meu amigo. E perguntei a uma amiga, que é gente legal, o que ela pensa:

“Uma vez me disseram que o preço que se cobra por uma palestra é o poder de compra do consumidor dela. Para uma ONG pobre, vá de graça. Agora se a ONG for rica, cobre muito!”

É daí que dou razão à putisse e ao profissionalismo de meu amigo, que trocou a palavra ONG por "faculdade" e por "clube de futebol". Em ambos os casos, nadavam em dinheiro.

É! Deve haver um inconsciente coletivo que luta em manter professores estagnados. Uma rede de corrupção, talvez.