Orientandos à Deriva?

“O mestrando é, normalmente, um solitário.
E mesmo que haja muitos solitários,
solidões não fazem barulho”.
Bárbara Sampaio Costa Flecha

Quando eu entrei no mestrado, entrei com a expectativa de muitos. Que meu orientador lesse linha por linha daquilo que eu andava escrevendo e que ele debatesse, claro, linha por linha. Só que ele lia no tempo dele e eu escrevia no meu. Tempos diferentes, e quando ele voltava sorridente dizendo que “já” tinha lido, eu “já” estava com um novo texto na mão, mudado do anterior. Então eu entregava o novo texto e a coisa ia se repetindo.

Nas contas finais eu segui sozinha no mestrado, mas bem acompanhada. Primeiro pelo meu orientador, que teve a paciência de agüentar minha imaturidade e meu afoito acadêmico, idealista e libertário. Depois pelas outras pessoas que saí caçando por várias universidades, faculdades, institutos. E delas, egoistamente, eu continuava querendo comentadas as tais das linhas que eu escrevia.

Então eu descobri haver um mercado acadêmico-institucional. E descobri que nem todos os professores de pós-graduação são idealistas. Para alguns, o que importa é o certificado de orientação e o quanto de artigos o aluno irá publicar com seu nome. Estou devendo cinco destes para o meu orientador, resultado do mestrado. Estão prontos, mas engavetados. Não sei por qual motivo não tenho vontade de publicá-los.

E para estas contas finais, meus arquivos no computador contam, além destes cinco textos, três livros inacabados, todos eles com mais de 70% das coisas revistas e editadas, um projeto de livro (que talvez saia antes dos outros três), um capítulo de livro pronto, outro por terminar e mais alguns escritos que dariam bom caldo em se tratando de currículo lattes. O meu anda meio parado, ausente de publicações, o que se torna uma grande ironia.

Mas, no final das contas, meu orientador de mestrado deixou que eu seguisse sozinha. E apenas hoje eu posso avaliar o quanto enriquecedor isso me foi, os caminhos que trilhei. É que me sentindo só (mesmo sem estar só) eu fui em busca do conforto. Tirei a bunda da cadeira, agitei os pauzinhos, cruzei municípios, estados e países (um brinde à internet!). Cavalguei em outras áreas e fiz disciplinas aos baldes além de ter freqüentado algumas por várias vezes e por anos seguidos.

É, fui atrás do que era meu, por direito, e encontrei muito mais. Depois de uma outra frustração acadêmica (já descrita aqui em outros momentos), eu gostaria de ter voltado, no doutorado, aos braços do meu orientador de mestrado, em tom de agradecimento. Que meu orientador atual não me ouça. Ou que, no mínimo, ele me entenda e me deixe andar com meus próprios pés como fez o primeiro, longe de sua sombra institucional, para que eu possa apenas ser eu mesma quando quiser me constituir academicamente.