Cai o Rei de Ouros, Cai o Rei de Paus: os estudantes chacoalham o sistema!

Cai o Rei de Ouros, Cai o Rei de Paus: os estudantes chacoalham o sistema!
por Fernanda Ramirez

Cai, não fica nada.

Nos últimos tempos tem-se visto uma movimentação dos Estudantes do Ensino Superior em franca manifestação país adentro. Primeiro foram os estudantes da USP, em maio do ano passado, que tomaram conta do prédio da reitoria. Estavam contra os decretos do Governador José Serra anunciados em janeiro de 2007 (dentre outras coisas, os decretos proibiam por tempo indeterminado a contratação de professores e funcionários para a instituição; impediam que as universidades usassem a verba sem autorização do secretário da Educação Superior e tiravam a autonomia universitária). Cai, não fica nada!

Depois foi a vez dos brasilienses da UnB que tomaram sua reitoria. Queriam a saída imediata do reitor Thimothy Mulholland, do vice Edgar Mamiya e de todas as fundações envolvidas em processos de corrupção. O estopim, em abril de 2008, foram os gastos superfaturados do reitor e sua lixeira de 1000 reais. Em janeiro deste ano, surgiram diversas denúncias de corrupção envolvendo a atual gestão da reitoria da UnB, envolvendo desvio de verbas por meio da FINATEC para uso privado do reitor. O Ministério Publico abriu inquérito e nas investigações descobriu mais irregularidades envolvendo a FUB e a FUNSAUDE. O grupo que estava à frente da reitoria desde 1998 já esteve envolvido também em outros escândalos como o do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (CESPE), o da Casa do Estudante (CEU) e o da própria eleição da atual gestão. Vale lembrar que desde 1996 após o decreto do Governo FHC, a UnB não tinha eleições paritárias para reitor, outra exigência dos estudantes. Cai, não fica nada!

Nesta semana, os donos da bola foram os estudantes e os professores da Universidade Federal da Bahia. É que o infeliz do coordenador do curso de Medicina, Antônio Dantas, declarou que a baixa no rendimento dos alunos no ENADE (Exame Nacional de Desempenho, do MEC) se deu devido ao fato dos baianos terem QI inferior ao restante do país. Hein? Nos dias de hoje é bom que se proteja ou cai, não fica nada!

É claro que a imprensa distorce fatos e é capaz de dizer grandes mentiras contando apenas verdades e não se sabe ao certo em que contexto o coordenador do curso disse tal blasfêmia. A pesquisa acadêmica e os papers também permitem esta falácia, na medida em que o pesquisador manipula os dados e publica apenas aqueles que lhe interessam. Para os acadêmicos há revisão por pares e coisa e tal dentre os inúmeros indexadores de pesquisa mundo afora. Para os cursos superiores há o ENADE e o fato histórico de que os alunos das universidades públicas têm uma tendência a boicotar o exame, porque não estão de acordo. Esta poderia ser uma das explicações para o baixo desempenho dos alunos da Bahia, segundo Arquimedes Ciloni, presidente da Andifes (associação que representa os reitores das universidades federais).

Independente do acontecido, este fato traz à baila novamente a legalidade de exames como o ENADE e outros instrumentos que regulam os cursos superiores. Há uma tendência da população em rejeitar números e índices, principalmente no tocante à educação. É que então, os números não seriam capazes de dizer como, de fato, a coisa funciona. Números são números, não provariam a qualidade do ensino. Mas trazem deduções lógicas. São indicadores essenciais de repasse financeiro e, convenhamos, deixar a educação ao-deus-dará não faz sentido. Pode ser pouco, pode ser insuficiente, pode ser inadequado, pode um monte de coisas, mas não se pode negar que é necessário haver agentes reguladores, principalmente em se tratando de universidade pública, que deve explicações à nação.

Desta forma, eu concordo com Naomar de Almeida, reitor da Universidade Federal da Bahia, que declarou em entrevista para a televisão que, de certa forma, o boicote dos estudantes ao exame nacional é um erro. No entanto, de outro lado há algo de positivo. O boicote é uma das formas dos estudantes se declararem insatisfeitos com o sistema e é o jeito que eles encontraram para “pedir” melhorias, coisa que também é muito válida, como a invasão nas reitorias ou esta última manifestação pública que resultou na renuncia do coordenador do curso de medicina do cargo.

Em conjunto, o que estes acontecimentos mostram é que os estudantes sempre estiveram com a faca e o queijo na mão. Basta que façam uso deles, pelas razões certas ou pelas razões erradas, para que o sistema chacoalhe. Então, que caiam os reis e que se questione a canção: “nos dias de hoje, não lhes dê motivo, porque na verdade, eu te quero vivo”.