E a Assembléia Docente???

No último sábado, e que sábado!, teve uma assembléia docente. Isso na instituição nova porque da outra nem se faz menção. E assembléia tem que ter mesmo. Como disse o moço da primeira fala, temos que ser pró-ativos. Eu até me lembrei do programa do Roberto Justus com a palavra da moda: pró-atividade! Até hoje eu não consegui abstrair muito bem o sentido disso, mas tudo bem, tem muita gente que vai concordar comigo que é melhor mesmo ser pró-ativo do que passivo.

A cena continua: microfone, núcleo de arte, microfone de mão em mão e meu corpo, impaciente, fazendo a cadeira gemer; um grunido chato semelhante em todos os pontos do auditório. O professor do meu lado também se ajeita e diz: esse modelo de ensino não adianta mais! E não é verdade? Fica uma coisa assim, meio de lá pra cá enquanto o jogo deveria ser no entre. E quando a coisa vem de lá pra cá a gente não participa, viaja.

Sentada um pouco à minha frente, e à minha direita, uma professora tipo Paty, loirinha, roupa de marca, impecável. Abre sua bolsa de couro legítimo deixando mostrar o esmalte de suas unhas compridas, lixadas, perfeitas. Seus dedos, de tanto procurar, encontram um frasquinho spray que ela ergue até a altura do queixo enquanto abaixa um pouco mais a cabeça para que seus cabelos escovados, chapinhados, caiam-lhe sobre o rosto. Então ela abre o bocão, dente à mostra, e borrifa goela adentro o conteúdo do frasco, boceja e engole. Devolve o frasco na bolsa e troca pelo estojinho, também de couro legítimo, onde está o batom que ela usa para corrigir os lábio vermelhos, mirando-se no espelhinho que o acompanha.

Neste instante uma mulher que promete não chorar durante sua apresentação pega o microfone. Pretende discutir o futuro pedagógico da universidade. Um futuro que pra mim já tinha passado lá na outra reunião. Pela segunda vez a ouvi dizer que era ela, e tão somente, a especialista. Egos à parte, do meu lado outra professora, jeito intelectual, abre sua pasta e pega uma encadernação: matemática financeira. Caneta em punho vai fazendo algumas anotações, folha por folha, criticamente. Alguns levantam-se e vão embora.