Primavera Educacional

Toda primavera é igual para o Ensino Superior. É quando chegam as respostas das avaliações institucionais. Tem o Enade, tem o exame da OAB, e por aí vai, sempre rola um exame de consciência. É quando a ruindade do sistema educacional brasileiro só se confirma, como todos os anos e, como todos os anos, nada muda. Nada muda, mas a gente fala sobre ele, sobre o que está ruim nele, sobre nossa indignação, sobre o que poderia ser melhorado. E todo ano, ou as coisas se mantém, ou pioram. Alguns poucos projetos deram resultados, mas nem isso a gente não vê na tv de massas, o que é uma pena, porque com mais gente vendo as coisas boas, mais as coisas boas poderiam ser copiadas. Como só tem notícia ruim nos jornais televisionados (quem lê jornal impresso?), mais a ruindade é copiada. Se um ladrão teve uma idéia inteligente, outro pode copiá-lo. E assim vão se abrindo túneis de ignorância pelo país. É que a televisão também diz, que além da educação, nossa polícia não presta, nossa política não presta, nossa sociedade é mesmo uma pindaíba.

Toda primavera é igual para o Ensino Superior. É quando se iniciam as propagandas de faculdades, universidades e institutos nas mídias digital, impressa e falada. Até hoje chega a minha casa opções de onde eu poderia estudar dentre todas as melhores universidades do país, e quase todas as faculdades, universidades e institutos - que fazem propaganda - estão entre as melhores do país, pelo menos em alguma coisa. São faculdades, universidades e institutos que sabem trabalhar com os números de todas as avaliações que sofrem, até com as estrelinhas do guia do estudante. E como são muitas as avaliações, sempre sobra um número favorável para algum curso em específico, mas que no reclame eles generalizam para todos os outros, que ficam igualmente favorecidos. E quando não é este o caso, eles contratam gente de peso para falar. Eu, sinceramente, estou com raiva da Fernanda Montenegro que anda apoiando uma instituição aí, junto com o Pedro Mariano. Bah! Eles não sabem o que dizem. Só quem está dentro pode dizer.

Toda primavera é igual para o Ensino Superior. É quando o vestibular surge como um bicho de sete cabeças e os jovens são bombardeados de lá pra cá, de cá pra lá, e é quando as faculdades, universidades e institutos começam a somar seus lucros. Se há poucos inscritos, fazem propaganda para aumentar. E todo ano se pensa em bater o recorde. Aumentar o número de alunos por turma, aumentar o número de turmas com o número aumentado de alunos. E somos nós, professores, que cortamos um dobrado. Encaramos 30 horas por semana em salas de aulas com o mínimo de 80 alunos, que é o padrão vigente das universidades, faculdades e institutos.

E toda primavera é a mesma para os professores do Ensino Superior. É quando as instituições reavaliam os seus planos de carreira e diminuem o valor da hora-aula do professor que por lá ingressará no próximo verão.

Um brinde à pindaíba, um brinde aos meus cento e poucos alunos por turma e aos setecentos e poucos alunos que eu vejo por semana, e que eu não sei o nome (o meu, qual é mesmo?). Um brinde!