Publicar ou Perecer?

Nas listas de discussão do CEV (Centro Esportivo Virutal) o tema publicar ou perecer sempre volta à tona, principalmente em época de credenciamento e descredenciamento de professor doutor, aqueles que estão na universidade pública e que são obrigados a manterem seus currículos lattes atualizados. E muitos o fazem, muitas vezes, às custas de seus alunos, os orientandos de mestrado e doutorado (algumas vezes sobra para os de iniciação científica).

E sempre aparece um alguém para comparar o país de cá com o país de lá. Aqui é assim, lá é de outro jeito e coisa e tal. Nesta última leva eu resolvi argumentar. É que eu estou cansada de ver um bando de professor doutor metendo o pau no sistema. Que o sistema é isso ou é aquilo outro, e vai-e-vem eu fico no meu cantinho pensando se não dá pra trocar o disco, se não daria para se fazer uma ação mais efetiva além destas destinadas à reclamação.

Eu, formada em esportes, entendo de regras. Entendo que o mundo não pode viver de um relativismo tosco de que tudo é permitido, e que depende só disso ou só daquilo. Então eu voto pela ética, pelos costusmes e pela moral. E voto pelo fim do relativismo. Mas sou a favor, notem bem, de ações eficazes que tenham propostas de mudanças efetivas porque eu também cansei do idealismo. Este é quase sempre pouco palpável devido a sua incretude.

Ações, inclusive àquelas das bolsas de valores, é o que me interessam. Eu também não concordo com parte dos critérios acadêmicos definidos pela Capes na sua classificação Qualis isso, Qualis aquilo outro. Mas eu sou capaz de ver o quê de mudanças as novas normas trouxeram aos professores doutores desavisados, aqueles que nos últimos 10 anos se viram obrigados a tirarem suas bundas da cadeira e a fazerem pesquisas para publicarem resultados novos. O que eu acho, no fim das contas, uma coisa mais do que justa: professor doutor pesquisador fazendo pesquisa, finalmente. É, a rapadura é doce, mas não é mole não, jacaré. O que teve de professor doutor rebolando pra se reenquadrar profissionalmente não foi brincadeira. Sorte das universidades públicas, que a cada ano se superam em pesquisas, ganharam laboratórios, ganharam isso e aquilo outro.

Quer sejam as pesquisas boas ou ruins, os artigos sejam festivais de citações ou recorta e cola. Quer seja isso e mais sei lá o quê que fere a qualidade da informação, eu vejo como algo muito positivo professores doutores tendo que arregaçar as mangas e fazer um qualquer algo. E digo mais, num país de não letrados como o nosso, também vejo como muito positivo este controle rígido da Capes em prol do aumento de produções acadêmicas. É que obriga muita gente que nunca esteve nem aí a estarem muito aí, e isso não tem preço. E mesmo que as pesquisas seja um fiasco, ou uma fraude, ler e escrever voltam a ocupar um papel interessante no sistema educacional. Que seja parte do Ensino Superior, então.

Infelizmente tem o lado negro da coisa. Estes mesmos professores doutores, no alto das concepções acadêmicas promovidas por titulações hierárquicas, já arrumaram atalhos. Publicam um mesmo artigo não sei quantas vezes, mas com título diferente. Publicam pesquisas em partes de I, II e III para ganharem na multiplicação das falácias, estas mesmas que até fazem corrente de autoria. Explico. Um pesquisador do grupo de estudos escreve um artigo, os outros 10 assinam, e no fim, haja espaço no currículo lattes desse povo todo com uma produção assim, tão exemplar quando todos os 11 pesquisadores terminarem seus textos e coisa e tal. E haja talento a ser reconhecido destes pesquisadores que em um mês conseguem publicar 10 artigos com assuntos correlatos mas absurdamente diferentes. É, porque há mesmo muita genialidade em fingir que se escreve, que se produz, que isso e que aquilo, quando a Capes finge que aceita, ou as FAPs, ou o CNPq ou qualquer órgão que o valha.

O bom é que todo sistema está aí para ser melhorado. Daí a minha birra: não gosta de como está, vai lá e muda. Só não me venha lotar minha caixa postal se achando o professor doutor rei da cocada preta, que o seu descredenciamento do programa é porque a Capes não te entende por trazer consigo critérios tão injustos. Ô coitado! Um bom analista lhe cairia bem, fique com este conselho que lhe dou de graça. Publicar ou perecer? Publicar o que for publicável e perecer quando se quiser.